Meu banheiro é minha heterotopia
Pela quarentena precisei voltar pra casa de minha família, com isso não encontrei meu lar, já não tinha mais um quarto pra mim nem onde colocar minhas coisas e quando percebi minha rotina era sempre na sala dormindo no sofá sem nenhuma privacidade ou tranquilidade para estudar e trabalhar.
Relacionamento rompido no banheiro, troca de fofocas, conversas comigo mesma durante o banho, rituais energéticos e choros de desespero no mesmo cenário em que eu fazia outras necessidades fisiológicas. O banheiro foi meu refúgio de 2020. Aquele único banheiro compartilhado entre 4 pessoas se tornou minha heterotopia…até que alguém batesse na porta.
Michel Foucault, grande filósofo elaborou esse conceito “heterotopia” desenvolvido a partir de um texto de sua autoria denominado “Outros Espaços” em que se apresenta uma breve história sobre as mudanças ocorridas na noção de espaço.
Há, igualmente, e isso provavelmente em qualquer cultura, em qualquer civilização, lugares reais, lugares efetivos, lugares que são delineados na própria instituição da sociedade, e que são espécies de contraposicionamentos, espécies de utopias efetivamente realizadas nas quais os posicionamentos reais, todos os outros posicionamentos reais que se podem encontrar no interior da cultura estão ao mesmo tempo representados, contestados e invertidos, espécies de lugares que estão fora de todos os lugares, embora eles sejam efetivamente localizáveis. Esses lugares, por serem absolutamente diferentes de todos os posicionamentos que eles reletem e dos quais eles falam, eu os chamarei, em oposição às utopias, de heterotopias. (FOUCAULT, 2009, p.415)
Bruno Luís, uma forte e repentina amizade, me disse que os dias têm sido um borrão, são muitas emoções transpassadas, mas que há calma que no amanhã tudo fica pelo menos um pouco mais concreto. Nesse processo até a calmaria, vou buscando, encontrando e ressignificando minhas heterotopias.
